Ontem, ao ver um filme, fui "confrontada" com uma realidade que nunca tinha pensado:
Já não me lembro do som da voz do meu avô Filipe...nem da minha avó Aida...
nem da Miquinhas, nem do Sr. António...nem do Tio Manuel...
Pensei e bem lá no fundo consegui ainda me lembrar da voz do tio Zé...uma voz forte e meio rouca de homem das lides do mar. Lembro porque ainda vou ouvindo as gravações que em tempos enviaram para a minha tia no Canadá e a voz dele ainda que por um segundo que seja, ainda aparece lá.
Assim como a da Tia Eugénia e da Avó Júlia...
E também se ouve ao longe, quase que num fio, a voz da Tia Augustinha...
Mas já não me lembro da voz do Avô Filipe e da avó Aida
A da Miquinhas se me concentrar ainda me lembro das expressões típicas dela o que faz ainda parecer que a oiço dize-las!..."...não é minha querida?" ou "não mexas aí piuinha!"...com um sotaque muito mangualdense!
E também não me lembro da voz do Augusto, o nosso empregado da relójoaria.
Assim como já não percorro as ruas de Mangualde nas visitas dos amigos, que agora se encerra só na minha memória e mostram portas fechadas que nada nem ninguém voltará a abrir.
Já não se visita a Miquinhas e o Sr. António, nem a D. Aninhas.
Nem o sapateiro da Rua da Saudade...nem a Tia Mercedes, nem o seu irmão mudo que sorria e gesticulava quando eu gaiata pequena entrava pela sua loja de fotografia para visitar a mana no andar de cima.
Se estava subia a correr para fazer biscoitos no forno a lenha, ou entrar na sala de estar que me fazia viajar para outros mundos, com os seus cheiros, almofadas e mobilias. Se não estava, corria para o sapateiro ou para a optica do Tio Manuel, ou para a loja do Tio Lello.
Assim como já não se percorrem as ruas de Viseu para visitar o Tio Henrique e a Tia Emilinha e as primas e primos da relojoaria.
E mesmo as recordações a serem cada vez mais e mais limpidas...não me lembro da voz do Avô Filipe nem da Avó Aida.
E tanto que eu gostava de os ouvir agora...
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